Desafios nos bastidores e o futuro imprevisível do cinema: de Alan Ritchson aos novos clássicos cult

Desafios nos bastidores e o futuro imprevisível do cinema: de Alan Ritchson aos novos clássicos cult

O universo cinematográfico é marcado por incertezas que vão desde a ansiedade dos atores no set de filmagem até a recepção imprevisível do público anos após o lançamento de uma obra. Um exemplo recente dessa tensão nos bastidores envolve Alan Ritchson, astro conhecido pela série Reacher. Atualmente protagonizando o drama Uma Vida de Esperança (Ordinary Angels), que está em exibição nos cinemas, o ator revelou ter enfrentado momentos de puro nervosismo durante a produção, especialmente ao trabalhar ao lado de uma lenda de Hollywood.

Tensão no set e a cena de patinação

Ritchson confessou que a experiência de atuar com Hilary Swank, vencedora de dois Oscars por Meninos Não Choram e Menina de Ouro, foi intimidante. Ele descreveu o primeiro dia de filmagem como assustador, admitindo o medo de que a atriz simplesmente fugisse ao vê-lo. No entanto, Ritchson destacou a gentileza de Swank, afirmando que ela mergulhou de cabeça no projeto e elevou o nível da produção. A recíproca foi verdadeira, com Swank elogiando o trabalho do colega, a quem ela não conhecia anteriormente.

Curiosamente, o maior desafio técnico para Ritchson não foi uma cena dramática complexa, mas sim um momento que envolvia patinação no gelo. O ator foi contundente ao descrever a experiência: “Foi uma verdadeira merda”. Ele estava extremamente nervoso para rodar a sequência, mas a própria Hilary Swank trouxe um alívio cômico à situação. Segundo a atriz, Ritchson não precisou atuar naquela cena específica, pois, assim como seu personagem Ed, o ator realmente não sabia patinar. A falta de habilidade acabou servindo perfeitamente à narrativa do filme.

A formação dos clássicos cult na década de 2020

Enquanto atores lidam com a pressão imediata das filmagens, os estúdios enfrentam um dilema diferente: a recepção da audiência, que é um fenômeno curioso e muitas vezes incontrolável. Apesar dos milhões investidos em pesquisas de mercado, nem sempre os filmes ressoam como esperado. Alguns fracassam por falta de qualidade, mas outros sofrem devido a estratégias de marketing ruins, datas de lançamento equivocadas ou simplesmente por não encontrarem seu público no momento certo.

É nesse cenário que surgem os “clássicos cult”. Geralmente, são produções que tiveram bilheterias fracas ou foram ignoradas inicialmente, mas que, com o tempo, conquistam uma base de fãs apaixonada. Embora não haja uma definição rígida, esses filmes frequentemente divergem da sensibilidade mainstream, abraçando elementos “campy”, o que explica a predominância dos gêneros de terror e ficção científica nessa categoria. O status de cult só é adquirido com a passagem do tempo, mas já é possível identificar produções recentes da década de 2020 destinadas a esse legado.

Comédias subestimadas e o fator timing

Um forte candidato é Bottoms, de Emma Seligman. O filme tinha potencial para ser um sucesso de comédia, mas a sorte não estava ao seu lado. Lançado no verão de 2023, bem no meio das greves dos roteiristas e atores (WGA e SAG), a promoção do longa foi severamente limitada. Além disso, vender uma comédia adolescente lésbica sexualmente explícita ainda é um desafio comercial, apesar dos avanços na representatividade LGBTQ.

Mesmo com um lançamento restrito, Bottoms teve um desempenho razoável e gerou devoção entre mulheres queer antes mesmo da estreia. A MGM talvez tenha subestimado o alcance do filme, que atrai um público muito além do nicho esperado. Seligman citou Mais Um Verão Americano (Wet Hot American Summer) como inspiração — uma comédia escrachada que foi mal recebida em 2001, mas cuja popularidade explodiu anos depois. A tendência é que Bottoms siga essa mesma trajetória.

Do “tão ruim que é bom” à animação autoral

Outra categoria de cult inclui filmes cuja qualidade duvidosa se torna seu maior atrativo. Madame Teia (Madame Web), da Sony Pictures, possui todos os ingredientes para seguir os passos de The Room, considerado um dos filmes “ruins” mais infames de todos os tempos. Essa contradição de ser “tão ruim que fica bom” garante uma sobrevida curiosa a certas produções.

Em um espectro oposto de qualidade, mas igualmente destinado ao status cult, está Mad God, disponível na Shudder. O projeto é a definição de “trabalho de uma vida” de Phil Tippett, uma lenda dos efeitos visuais responsável por criaturas em Jurassic Park, Star Wars e RoboCop. Tippett passou 30 anos criando essa animação stop-motion nos intervalos de seus grandes projetos, resultando em uma obra visualmente única.

O bizarro como aposta narrativa

Por fim, a ousadia narrativa também pavimenta o caminho para o culto. O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear) nunca teve a pretensão de ser um filme de prestígio. A trama absurda — baseada em fatos reais sobre um urso que ingere cocaína perdida por um traficante nos anos 80 e inicia uma matança na floresta — reúne um elenco eclético, incluindo Keri Russell e o saudoso Ray Liotta, abraçando o caos absoluto.

Na mesma linha de escolhas inusitadas está Better Man, da Paramount Pictures. O filme é uma cinebiografia musical do cantor britânico Robbie Williams, mas com uma liberdade criativa desconcertante: Williams é retratado como um macaco antropomórfico gerado por computação gráfica. O cantor justificou a escolha dizendo que se vê como um “macaco de performance”, mas a decisão também serve como uma estratégia para mitigar o fato de que muitos americanos desconhecem sua figura. Essa estranheza deliberada é, muitas vezes, o ingrediente final para garantir a imortalidade de um filme na cultura pop alternativa.